Passei uma boa parte da vida preocupada com o que os outros pensavam sobre mim. Se a calça que eu estava usando parecia estranha. Se o meu cabelo estava bom. Se eu fui rude em algo que disse. Se meu corpo era adequado. Se…
E a pergunta que eu deveria ter feito em todas estas indagações era – para quem?
A calça, o cabelo, a palavra, o corpo estavam inadequados para quem? Eram bons o bastante para quem?
Porque enquanto nós vivemos tentando nos adequar no padrão ideal do outro, perdemos a nossa autenticidade, limitamos nossa espontaneidade e reduzimos nossa potencialidade. E cada vez que abrimos mão de nós, o outro acaba não nos conhecendo realmente.
Se eu tenho vergonha de ser quem eu sou, com todas as imperfeições que eu tenho eu não sou eu na íntegra. Eu sou partes, frases, retalhos, momentos.
E quando não conseguimos ser o que viemos ser os aprendizados levam mais tempo e se repetem, viram ciclos, temporadas e parece que estamos assistindo o mesmo capítulo daquela novela, mudando apenas as personagens.
A arte de sermos nós mesmos consiste em primeiro lugar numa conversa honesta com a pessoa mais importante de nossas vidas – nós mesmos. A partir do momento que reconhecemos, aceitamos e amamos cada parte de nós, de qualidades a defeitos, de manias a jeito, conseguimos ter uma relação honesta com qualquer outra pessoa.
E sei que falando assim parece fácil, mas já tentou dizer para outra pessoa que o modo como ela agiu contigo te fez mal porque você tem fragilidades? E dizer tudo isto isento da intensidade do sentimento de dor? De uma maneira tão clara, limpa e ao mesmo tempo gentil que o outro não só compreende o seu ponto de vista como repensa a forma como age contigo?
Dizer ao outro que ele errou é mais leve e fácil para nós, agora admitir que nós também erramos ou que temos fragilidades que nos deixam mais vulneráveis não. Porque fomos levador a crer que ser forte é fingir que está tudo bem, mesmo quando não está.
Foi por conta disso que eu fiz um acordo comigo. É algo recente, talvez de dois anos para cá, mas que tem se intensificado mais por agora – se eu tenho dúvida sobre qualquer situação eu vou lá e falo. Não discuto, não brigo, não bato boca. Eu exponho o que sinto ou penso.
Eu experimento não colecionar achismos mais. O que me deixou muitas vezes bem perdida. Eu me esforço para não criar monstros, não escrever uma história baseada em fatos emocionais que são meus, questões que dizem mais sobre mim do que sobre o outro. E na dúvida eu converso.
Se a outra ponta, ou seja, a outra pessoa não compreender as minhas razões ou não se importar, não importa, porque eu estarei fazendo a minha parte e ela é – respondendo a pergunta do título – para mim e só por isto já merece todo o meu amor.