O dia que fiquei negativa pela primeira vez na vida
Quando escrevi sobre empreendedorismo eu pulei a parte que falaria sobre a minha trajetória financeira, porque o ponto central eram as dicas do meu aprendizado no mundo empreendedor. Não mencionei sobre a minha mãe ter uma doença que demandava todas as nossas economias. E talvez por isto ela, junto ao meu pai, tenha nos colocado como valor fundamental economizar.
Enquanto eu queria viajar com a escola, escolher qualquer tipo de sobremesa no mercado ou comprar a fruta mais cara, muitas famílias que eu conhecia tinham o carro do ano, uma casa cheia de aparelhos eletrônicos de última geração, a roupa da moda, uma geladeira recheada de guloseimas e dívidas no banco.
E o meu pai dizia “- de que adianta ter tudo do melhor e não ter uma casa, mesmo que seja simples, para morar?” O que muitos consultores financeiros não indicam…
Quando adolescente eu não viajava com a turma, não comprava roupas de marca e nem tinha o tênis do ano – era moda assaltar as pessoas para levarem seus tênis. Cada uma das filhas trabalhava e contribuía com o que era possível para dar a melhor qualidade de vida para a minha mãe.
O lema era – se não tem dinheiro não compre.
Até que virei dona do meu próprio negócio, da minha própria casa e das minhas contas. Meses bons, outros não. Meta – garantir o pagamento de todas as contas sem ficar negativa. Até que isto aconteceu e eu me senti extremamente humilhada. Por mim mesma.
Era como se eu tivesse decepcionado a minha família e não valorizado tudo o que foi aprendido desde pequena. Eu me diminuí por algo que para a maioria dos brasileiros é normal. Não era ficar negativa, era o efeito moral.
Só que foi justamente após isso que eu entendi que tudo é uma questão de dar energia ou não para a situação, mas é claro que ninguém quer dever, porém, podemos trabalhar isto para entender o que está acontecendo e fortalecer nossas parcerias, estratégias de negócio e novas ações – não deu certo de um jeito, vamos de outro.
Água parada causa doença e cabeça fazia abre espaço para pensamentos negativos.
E olha que curioso, recentemente eu percebi que associava ter dinheiro com sacrifício e dificuldade. Foi quando uma amiga disse que minha família era abastada e a dela não. Ao invés de eu levar positivamente o comentário me senti desmerecida, como se ela não reconhecesse o meu esforço em passar por limitações financeiras para conquistas. E olha que não somos ricos da forma como ela colocou. É que para ela o dinheiro se constrói diferente do que para mim o que não faz ninguém estar certo ou errado.
Cada um dá um valor diferente em ter abundância financeira.
Segurança e sacrifício foram valores colocados para mim. Se trabalharmos duros e sem descanso o dinheiro vem. Existe uma trajetória de escolhas que envolvem sofrimento e dificuldades para conseguirmos economias.
E é este meu exercício diário para transmutar. Não é necessário sofrimento e nem sacrifício.
Hoje já vejo o dinheiro como um dos modos de ser reconhecida por algo bem feito, mas não o mais importante. Também comecei a enxergar isto como a vida – nem todos os dias estamos positivos, mas nada como uma boa noite de sono e um novo dia para sairmos do vermelho e ficarmos verdinhos de esperança.