Há algum tempo eu encontrei um antigo amigo numa palestra. Na hora percebi que ele estava um pouco sem graça, tímido, mas educadamente manteve a compostura e conversou comigo. Éramos “ermãos” (como ele me chamava), amigos de bar, de bate papo, de desabafos, de choros e momentos “deprê”. Era daqueles que apresentamos às amigas, que damos e trocamos conselhos.
Tínhamos conversado um tempo antes sobre o seu atual casamento e nas entrelinhas eu percebi que ela (sua atual esposa) não permitia e nem aceitava a nossa amizade. De graça.
Depois de um tempo fui procurá-lo nas redes sociais para comentar sobre uma situação que ele se recordaria e foi ai que eu vi que ele havia me deletado da sua lista de amigos. E não só do facebook, todos os canais de comunicação que eu tinha dele sem acesso ou resposta.
Comecei a me questionar: o que eu tinha feito para ele? Eu, com a capacidade infinita de promover o vitimismo, o autoflagelamento, comecei o processo de – se algo aconteceu a culpa é minha. Certo? Errado.
Quantas vezes nos responsabilizamos por conta do comportamento não satisfatório para nós de alguém? Que medo é este que temos em assumirmos que não tem nada de errado conosco ou com o outro, mas que vivemos o tempo todo com a opção de escolhas e elas podem incluir e excluir pessoas?
Relacionamentos duram o tempo que faz sentido para os envolvidos e isto vale para a amizade também. Se, dentro da compreensão dele, a minha amizade não era prioridade e nem tinha mais motivo de existir eu preciso acatar a sua decisão. Com compreensão. Para evitar fadigas e me capacitar para a autocomiseração.
O curioso é que isto já tinha acontecido outra vez. Com ele mesmo. E juntando esta história com um vídeo que fiz recentemente percebo que sempre irá acontecer. Somos cíclicos. O que vai mudar é a forma como encaramos estas circunstâncias.
Não é porque o outro decidiu sair da nossa vida que automaticamente somos rebaixados para seres menos dignos de amor. Não é porque nos trataram de qualquer forma, de forma subsequente, que somos invalidados pelo mundo.
Existem milhares, ou melhor, milhões de pessoas neste planeta e tem espaço para todos.
Permitirmos que o outro nos trate de qualquer jeito, é nos tratarmos de qualquer jeito também e excluirmos as infinitas possibilidades que temos de experimentar novos aprendizados e sabores.