Todos os dias, eu busco meus filhos na escola. E faço isso a pé. Acho que caminhar pelas ruas é a melhor maneira de perceber a cidade, a vida enfim. Você sente o frio, o calor, os cheiros, a chuva bater na pele, ouve os barulhos da cidade (se não estivercom fone de ouvidos, claro). E, no retorno da escola, eu e meus dois filhos (um menino e uma menina de sete anos), conversamos, andamos (às vezes rápido, às vezes devagar), damos risada e, de vez em quando, discutimos (porque isso também faz parte do conviver).
Eu costumo ser aquela que imprime uma velocidade mais rápida no andar, que não quer parar para olhar nada porque os ponteiros do relógio estão se movimentando e eu tenho sempre algo mais importante e urgente para fazer. Mas eles não se importam muito com isso. E sempre dão um jeito de subir numa mureta e brincar de malabarista – “segura minha mão, mãe”. Ou então saem correndo, param, pulam pequenas rampas ou desníveis da calçada com os braços abertos imitando um avião ou simulando um pulo radical (num skate imaginário talvez).
Há dias em que o mau humor me envenena. Brigo com eles para que parem com essa bobagem de brincar na rua e que caminhem mais rápido porque precisam fazer a lição de casa e eu, afinal, estou cansada. Mas existem momentos (ainda bem!) nos quais deixo me levar pelos impulsos dos dois, dou um chega pra lá no meu lado ranzinza, me contamino pelas risadas, incentivo os dois a fazerem pequenas corridas e até canto junto. E observo.
Fico olhando os dois caminharem lado a lado, alguns passos a frente, e penso que a minha vida é boa, bem boa e que aquele trecho de quatro quadras entre a escola e a nossa casa é o melhor momento do meu dia, quando eu permito que ele seja.
Ana Holanda é jornalista, editora-chefe da revista Vida Simples, mãe da Clara e do Lucas e apaixonada pelas cenas banais do cotidiano.