Ontem de manhã recebi uma mensagem da Maria Helena. Eu a conheci no Sesc Pinheiros, ela é da área da limpeza. Tive uma primeira impressão ruim, a segunda e terceira também, seu rosto franzido me passava uma cara de brava, mas ao mesmo tempo me deixava intrigada demais, até que um dia resolvi além de falar o boa tarde acompanhado de um sorriso como de costume, tentar uma aproximação maior.
E foi ai que eu entendi o motivo da sua cara: ela estava com várias dores e suspeitas de doenças que só poderiam ser confirmadas quando ela fosse fazer os exames, porém para marcar médico tinha que falar com a “supervisora” que não ia com a cara dela e fazia pouco caso com a situação, ou seja, não agendava seus médicos.
A partir daquele dia selamos uma amizade. Toda vez que eu ia almoçar lá (que era praticamente todos os dias) tirava uma parte do meu almoço para conversar com ela. Comecei a falar sobre o mal que nos faz quando permitimos que alguém nos irrite e um dos sinais era a pressão alta (coisa que ela tinha, mas que não tratava), da importância de sermos mais calmos, tolerantes e menos explosivos.
Depois de um tempo ela já estava encorajada a operar, tinha começado a tomar o remédio para a pressão diariamente, mas quando eu pedi para ela me passar seu número de celular ela disse q tinham roubado. Então peguei um que estava em casa ainda em bom estado e dei para ela. Semanas depois a mesma coisa havia acontecido.
Eu acabei saindo da empresa que trabalhava, ela operou, mas começou a me mandar mensagem pelo celular do marido dela e com isto voltamos a ter contato.
Ontem no áudio ela dizia assim: “você foi a única amiga de verdade da minha vida” – me emocionei. Ai o marido dela abriu a conversa por vídeo e eu soube também que o primeiro presente que ela ganhou na vida de alguém foi aquele meu celular.
A gente encontra por ai milhares de Maria Helenas que nunca são olhadas como seres humanos, aliás, muitos não enxergam os lixeiros, os mendigos, copeiros, moça da limpeza, carregador, entre tantas outras profissões ou situações de invisibilidade.
Não foi o celular que eu dei que fez ela gostar de mim, foi a atenção, o carinho e o amor. Nós trocamos os melhores fluídos e vibrações positivas. Nós demos o nosso tempo em prol uma da outra.
O celular foi apenas um detalhe, uma forma de agradecê-la por estar presente num dos momentos mais solitários da minha vida, acho que eu ganhei muito mais que ela e por isto que viver é bom porque podemos ser transbordados de boas surpresas a todo instante!