A vida é feita de diversos momentos e todos eles nos trazem lembranças, mas é a forma com que lidamos com elas que fazem com que sejamos o que somos hoje.
Quando estamos ao redor de pessoas que nos remetem a momentos felizes é como se nos teletransportássemos para este lugar seguro e feliz.
E foi isto que me aconteceu outro dia.
Reencontrei o pessoal que trabalhei em meu primeiro emprego, pouco menos de 20 anos. E toda vez que me encontro com qualquer um dos que fazem parte deste pedaço da minha vida, é como se eu estivesse lá de novo.
E isto me lembra um outro episódio: eu já estava trabalhando em outra empresa e me reencontrei com esta turma, levei as fotos do encontro para o novo emprego, e, diferente de tudo o que eu pensei que fosse ouvir, recebi como retorno “nossa você fez o dia de princesa da galera?”
Sabem por que estavam dizendo isto?
Porque quase todos são negros e eu era uma das poucas brancas, de olhos claros e com cara de “riquinha” da turma.
Jamais pensei que fosse ouvir algo deste tipo de pessoas tão “esclarecidas”, “cultas” e “estudadas”. Aquilo me doeu muito, porque não estavam falando da cor, estavam falando das pessoas que eu amo, das pessoas que eu convivi por anos.
Vinte anos passaram e ainda percebo “caras estranhas” quando mostro fotos daquela época, vinte anos passaram e as pessoas ainda não aprenderam que a cor de alguém não define quem ela é.
Todos os outros empregos em que eu trabalhei a quantidade de negros sempre foi reduzida ou proibida (sim, proibida).
E eu de um lado era vista como “patricinha”, do outro era “o dia de princesa dos pobres” e eu só conseguia ver seres humanos em processo de evolução.
Que os “esclarecidos” me perdoem, mas não há nada melhor que sermos humanos, sem etnia nos dividindo e sem a hipocrisia de fingirmos não ser preconceituosos.