Eu ando muito pelo meu bairro porque minha cachorra não faz suas necessidades dentro de casa, o que é bom pelo cheiro e ruim nos dias de frio e chuva, mas se eu for tirar uma média ainda ganha o lado bom: passear pelo bairro e reparar nas mais diferentes pessoas por aqui.
Dona Edna é uma vizinha sorridente. Suas vizinhas, os inúmeros vasos de flores para regar e sua família são seu bem mais precioso.
Só que teve um dia que a encontrei muito abatida, olhos tristes de quem tinha acabado de chorar e percebi que algo de muito grave tinha acontecido. Ela é mãe de 3 filhos: duas mulheres e um homem. Perdeu o marido faz poucos anos e agora o filho (o único que morava com ela).
Vendo a D Edna chorar feito criança me cortou o coração. Logo ela, toda sorridente, toda falante e animada.
Demorou um tempinho para ela voltar a sua rotina, mas aos poucos comecei a vê-la regando as plantinhas, conversando na porta e rindo, timidamente, mas rindo.
Outro dia passei em sua porta e notei duas pessoas conversando com ela, quando chega mais uma e diz:
” – Nossa! Não fiquei sabendo do seu filho. Agora que soube, meus sentimentos, que triste isto não? Meu Deus do céu, um homem bom e…” blablablabla. Dona Edna imediatamente começou a chorar copiosamente.
Na hora me bateu uma certa bronca daquela pessoa que eu nem conhecia ou reconhecia do bairro. Como ela faz isto com D Edna? Justo agora que ela está se recuperando?
E ai me perguntei: quantas vezes somos inconvenientes e a abrimos a boca para piorar a situação que está? Por que temos a mania de querer dizer alguma coisa quando o melhor é ficamos quietinhos?
Aquela mulher é apenas a representação das inúmeras palavras inconvenientes que dizemos sem pensar. É o símbolo da nossa falta de respeito e percepção ao próximo, mas ela não é a única.
Já me vi agindo assim e a partir de agora pretendo me policiar mais para não magoar corações de alegres donas “ednas” que possam aparecer em meu caminho.