O dia que me vi terapeuta
Se eu for pensar quando me vi terapeuta eu não tenho resposta.
Se eu voltar a minha timeline encontro muitos momentos em que a terapeuta em mim aparecia de forma discreta, mas não profissionalmente.
Na escola eu era a garota que os amigos desabafavam, pediam ajuda, conselhos sobre a vida, era a amiga que os pais queriam por perto porque eu passava confiança e eu não entendia porque.
Minha casa era um entra e sai de amigos me pedindo opinião e eu também não sabia porque isso acontecia.
Era muito comum nos locais em que eu trabalhava ou estudava as pessoas contarem grandes segredos para mim sem nem me conhecerem direito e ainda falarem que só eu sabia porque só contavam para mim.
E eu me perguntava, mas por que essa pessoa está me contando isso se nem amigos somos?
Já acudi conhecidos, acolhi amigos em momentos difíceis, estive junto para o que fosse preciso, mas também tenho fama de ser a amiga que puxa a orelha.
E a vida toda ouvi – você é psicóloga?
Ate que comecei a minha terapia
Quando iniciei minha terapia foi como minha primeira escola.
A primeira profissional que me atendeu foi muito querida e eu devo muito do que sei e aprendi na jornada do autoconhecimento a ela.
Tive um longo caminho ouvindo, elaborando, aprendendo e aplicando em mim esse tal do autoconhecimento.
Anos buscando cursos alternativos, de Análise Transacional, Coaching e cada vez mais eu me aproximava deste caminho.
Até que há alguns anos veio muito forte uma vontade de voltar a estudar, mas eu pensava no que fazer e não aparecia.
Eu só pensava na hora certa vai aparecer o que eu tenho que fazer, inclusive olha que ironia! Eu sonhava que estava estudando.
Foi assim que a psicologia analítica entrou em minha vida e vou confessar que eu não fazia a menor ideia do quanto que Carl Gustav Jung já existia em meu caminho.
Como saber o melhor caminho?
Talvez você esteja pensando que foi fácil para mim escolher a profissão que exerço e eu te garanto que não foi.
Errei o caminho e a direção infinitas vezes, me sabotei, sabotei meus planos e sonhos, mas algo me puxou para cá.
O fato de ouvir as pessoas, palpitar, acolher, dar bronca, ser de certa forma a caçamba deles para descarregarem suas frustrações não me tornou uma terapeuta.
O olhar empático, a escuta ativa, a percepção do todo, do sentir, do falar A querendo dizer B ou de simplesmente notar que algo não está bem foram importantes para ser terapeuta.
Porque fazendo terapia eu aprendi que a função de quem nos ouve daquele lado da sala ou do computador é acolher, ouvir, dar suporte, apoio, criar possibilidades de mudança de atitude para que a gente encontre as respostas que estão em nós. E estão mesmo.
Sou feliz pela carreira que escolhi
Sei tudo? Não e isso que é o melhor. A cada novo cliente, uma nova porta se abre de infinitas possibilidades e que exige de mim mais aprendizado, estudo, escuta, empatia e percepção.
Que eu não saiba de tudo e que assim permaneça, pois a cada novo atendimento que surge, meu olhar amplia e renova o meu ser.
Ser terapeuta é melhorar a mim como ser humano, é encontrar almas que pensam de modo diferente do meu e compreender exatamente o que faz essa pessoa agir, pensar ou ser daquela forma, mas entender acima de tudo que não importa a teoria que sigo, a escola que me formei ou o título que tenho. O importante mesmo é olhar esta alma sendo outra alma humana.