Eu já dividi com vocês algumas vezes os pensamentos do meu pai. Comentei também que ele tem Alzheimer, mas que por ter sido diagnosticado cedo está relativamente estabilizado, ou seja, ele ainda se recorda da maioria das coisas que acontecem.
Já falei por aqui que nós tivemos muitos problemas de convivência nesta vida, brigamos muito, nos magoamos muito e hoje que ele está no seu processo de redenção. A cada dia que passa eu aprendo mais com o que é dito através de seus comentários. Por muito tempo tinha a ideia de que ele era uma pessoa egoísta, que só pensava nele e em seu umbigo. Hoje, vejo que ele pensa nele sim, mas que isto é apenas autoamor.
Meu pai é o tipo de pessoa que vai primeiro pensar no que ele quer fazer e depois irá incluir ou não outra pessoa na história. Não por interesse, porque o que ele quer é importante e prioridade em sua vida. Ele nos ensinou a tratar todo mundo igual independente da posição social e acho que o meu lado simpático de conhecer todo mundo em qualquer lugar que eu vá seja um traço dele que está em mim.
Outro dia estava com ele ao telefone e começamos a falar sobre a vida. No meio da conversa comentei sobre uma pessoa que não vai muito com a minha cara e a resposta dele foi a melhor:
” – Esta pessoa nunca falou mal de você na minha frente, mas também se falar para mim não muda nada porque eu gosto de você.”
Ai eu comecei a rir e falei o quanto ele tem sido um excelente professor para mim, ensinando tanta coisa que eu nunca pensei que pudesse aprender. E então ele respondeu:
” – Eu não ensino ninguém, não sei nada da vida, aliás muita gente já falou mal de mim e quer saber eu não ligo para o que os outros pensam de mim eu vivo a minha vida do meu jeito e está tudo bem. Eu não dou bola para a torcida!”
Quantas vezes na minha vida eu parei ou paralisei por saber que alguém havia falado coisas sobre mim que não eram verdadeiras? Quantas vezes nós estacionamos nossas vidas porque nos importamos mais com o que o outro acha de nós do que com aquilo que realmente somos?
E meu pai, diante dos seus 83 anos me dá uma aula de amor-próprio que eu jamais pensei em ter. Esta história de egoísmo que muitas religiões pregam acabam afetando diretamente o modo como nos vemos e escolhemos agir. Achamos que cuidar de nós é sermos pessoas más ou pouco caridosas.
Prioridade é fazer o que nos é importante. Egoísmo é só pensarmos em nós. Ser feliz é fazer escolhas que priorizem o que nos faz bem e é importante. Caridade é amar ao próximo como a si mesmo. E para fazer isto é necessário ter a parte do “si mesmo”.
E meu pai é doce, sábio e amoroso. E eu jamais pensei em ter esta visão dele!