Terapeuta tem dias ruins?
Será que terapeutas tem dias ruins? Esta pergunta é recorrente para mim:” – mas você sendo terapeuta fica mal?” Ouço por ai e acho uma pergunta bem curiosa, pois não sei dizer quando foi estabelecido que os profissionais da área da saúde ou que trabalham com Desenvolvimento Humano como eu não tenham oscilações emocionais ou físicas.
Foi quando notei que muita gente acredita que um terapeuta esteja blindado de algumas situações desconfortáveis, por conta da sua experiência em lidar com questões externas.
Eu compreendo que acontece uma associação parecida com ” – só vou ao dentista que tem dente bonito, num dermatologista qque tenha a pele boa, num endocrinologista que seja magro…” e por ai vai.
Acontece que todos nós, sendo da profissão que for, estamos suscetíveis a deslizes, pois não somos perfeitos. E é sobre isso que meu trabalho percorre.
Parto da seguinte pergunta: quem sou eu antes de sair da cama?
O que eu quero dizer com isto?
Todos nós usamos personas para encararmos nossos dias. Persona, é um termo criado e utilizado pelo psiquiatra e psicólogo Carl Gustav Jung, que fundou a psicologia analítica. E é um símbolo para representar as nossas funções na vida. Como se colocássemos uma máscara para cada papel que atuamos. Sem elas, provavelmente teríamos dificuldades em conviver.
Para ficar mais simples, quando estou em atendimento com algum cliente, visto a máscara terapeuta, quando estou com meus amigos, minha função é ser amiga, na minha família posso ser filha, irmã, prima, tia, cunhada e assim por diante.
Máscara ou persona, não são negativos e todos nós possuímos, não quer dizer que somos falsos ao atuarmos com as mais variáveis delas e sim que necessitamos delas para encararmos nossos dias. É necessário que a gente utilize delas para nos adequarmos em cada função que atuamos.
Só é ruim quando vivemos tanto esta personagem que não conseguimos sair dela, por exemplo, os casos de pessoas que atuam mais como a sua profissão do que sendo eles mesmos, ou que só sabem ser pais e não saem da função “cuidar”, e por ai teremos uma série de exemplos.
Agora imagina eu ser terapeuta de todos os amigos que tenho? Ou ficaria esgotada ou eles ficariam cansados de tanta análise. Ou atendendo clientes eu fosse mais uma tia do que uma terapeuta por exemplo? É por isto que temos diversas personas, mas com o autoconhecimento nossas máscaras são deixadas de lado para que a gente possa se enxergar da forma mais clara possível.
É ai que entra o meu trabalho.
Quem sou eu antes de sair da cama?
Esta pergunta que baseia o processo terapêutico Conversas que Transformam. Quando coloco esta reflexão, é uma forma de chamar atenção para quem sou eu sem máscara alguma? Quem sou eu lidando com todas as atribuições que tenho? Sem vestir minha persona e começar meu dia?
Quem sou eu me olhando com amor e sinceridade, por essência? Somos um sistema complexo de questões que estão conscientes em nós e também inconscientes, mas acima de tudo somos almas.
Jung tem uma frase bastante conhecida que diz ” – Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” somos todos almas humanas e não tem ninguém melhor ou pior do que o outro.
A cada momento situações podem acontecer de forma inesperada mudando o nosso trajeto e fazendo com que a gente se encontre ou perca o rumo, mas isso não impede que nós voltemos a nossa rota de equilíbrio.
Então, terapeuta tem dias ruins?
A resposta é sim.
Antes de sair da cama eu sou igualzinha a todas as outras almas humanas e tenho questões, momentos de desânimo, tristeza e falta de motivação, mas isso não me paralisa, me faz buscar constantemente formas de melhorar e voltar ao meu estado de equilíbrio.
O que algumas vezes acontece com profissionais desta área é estarem tão focados no auxílio do outro que podem esquecer de fazer a sua própria “manutenção”, resultando em questões mais intensas.
Uma curiosidade para quem não conhece esta área – é sempre indicado que um terapeuta tenha acompanhamento de outro profissional para cuidar dele. A falta de humildade pode acarretar problemas mais sérios, pois não existe vacina para questões emocionais. O que existe são pessoas que podem nos auxiliar em momentos intensos de reflexão.
Se um terapeuta tem isso, imagine eu!
Ai que pode se enganar, a única diferença é que um terapeuta aprendeu em seu percurso mais ferramentas para compreender melhor seu caminho do autoconhecimento, porém, se ele não aplicar aquilo que indica aos seus clientes ficará num campo muito vulnerável e sem forças para auxiliar o outro e em algum momento irá eclodir
Se você já faz terapia e utiliza destas ferramentas para se conhecer e compreender quando as coisas não estão bem, tenha certeza que está no caminho certo.
E caso ainda não iniciou um processo terapêutico, !