Sobre lavar louça
Hoje eu não lavei a louça do jantar pela manhã. E também não toquei nela ontem à noite. Ao deitar em minha cama e imaginar a louça ali, depois do meu namorado prometer que ia lavá-la, quase me fez começar uma DR (e olha que são duas letras quase nulas no nosso relacionamento). Poucos talheres e pratos pareciam ter o peso da arrumação do banquete servido no castelo em que a Cinderela perdeu seu sapato. E quem me entende?
Sempre fui muito resolutivo. Alguns dizem que nasci para tirar problemas da frente, tratando essa característica como positiva. O fato é que nem sempre. Como tudo na vida, o ideal é o equilíbrio. Naquela manhã, resolvi deixar a água daquele rio correr. E correr no seu ritmo, no sentido que resolver tomar. Se o compromisso dele era dar um jeito ‘naquela bagunça’, eu não podia assumir a responsabilidade. Você deve estar pensando que o trabalho, então, ficou para ele. E aí que você se engana. Naquela manhã, minha consciência me corroía entre preparar o café e segurar o impulso de fazer do meu jeito, entre a expectativa de ser correspondido e o medo de ter que lidar com a frustração de perder para mim mesmo e assumir a atividade.
A louça é um exemplo diário de batalha pelo equilíbrio e busca em entender o que é meu e o que não é. Nessa situação, na maioria dos casos, o outro não percebe o drama que acontece na minha cabeça. Nem sempre resolver tudo significa ajudar. Muitas dessas vezes, me senti atrapalhando, por mais que o outro não via com maus olhos. Tentar, testar e experimentar. Todo mundo precisa disso. Se isso não acontece, como me sinto? Responsabilidades em excesso, preocupações desnecessárias.
Muitos anos de terapia me ajudaram a resolver esse ponto em vários aspectos da vida. Hoje encaro de forma mais racional e consigo deixar as coisas fluírem mais e melhor, principalmente quando percebo que todos ganham. Mas é um hábito que precisa ser vigiado. Alguns dias ele vence. Mas eu sempre sei. E isso me deixa mais consciente de mim mesmo e do que devo evoluir. Cada aprendizado como este forma mais uma camada da minha árvore da vida. Ainda tenho muitas mais para formar nesse assunto e não vou parar.
Alô, namorado: agora pense bem quando resolver dizer que vai lavar a louça, ela vai ficar te esperando! 🙂
Eduardo Alves, antes de ser relações públicas, sempre foi um observador. Agora, por meio das palavras, quer dividir suas reflexões sobre o que vê e sente do mundo.