Desde pequena eu ficava ao lado da minha mãe vendo ela cortar os legumes, desossar o frango, picar a cebola, o alho e todos os outros ingredientes necessários para preparar o que quer que fosse. Ao lado da pia era o melhor lugar, então, minha mãe ajeitava a sua cadeira de rodas e começava a preparar tudo. E eu gostava de comer.
Eu tinha a mania de comer legumes e outros alimentos crus. E minha mãe nunca se opunha, afinal de contas o alimento cozido é o mesmo com a diferença que ficou na água por um tempo. Dizem até que cozinhar demais faz perder vitaminas…
Esta minha mania se estendeu depois de grande. Ainda me pego colocando temperos e experimentando os alimentos “in natura” e vendo se é tão diferente assim. Em alguns casos o sabor é até melhor do que assado, por exemplo.
Pensando sobre isto comecei a fazer um comparativo com os nossos relacionamentos e cheguei à conclusão que prefiro as relações cruas. Veja bem, não digo frias, digo no sentido mais básico da palavra, o não elaborado, o não preparado, aquele que não passou pelos processos de cozimento.
E o que seria não passar por este processo?
Aquelas que não precisamos “parecer” algo ou tentar “esconder” algo que faz parte de nós e com isto não gerando a falsa impressão de sermos aquilo que não somos. Sem gerar perda de “nós” em qualquer processo de cozimento ou camuflagem.
O lado puro nosso consiste em partes boas e ruins, porém, é o mais real. Se formos “assados”, “fritos” ou “cozidos” perderemos o lado essencial e mais intrínseco.
Isto não quer dizer que não temos que ter cuidado com os outros e nem que devemos despejar nosso formato “in natura” na cara de todo mundo, mas significa que não precisamos ser tão rebuscados, cautelosos ou até mesmo medrosos no trato com outras pessoas.
Podemos dizer o que sentimentos, pensamos e percebemos a respeito de nós mesmos em relação ao outro sem que isto seja um descarregamento insano de verdades ou de insatisfações da nossa parte. Podemos mostrar nossa autenticidade sem que isto seja um ato de agressão ao outro, mas sim de consideração e respeito por nós mesmos!
O que nos falta não é refinamento no cru é ponderamento demais no cozido.