O que não é do outro, é meu
Dizem que quando alguém fala algo sobre nós, está mais dizendo sobre ela mesma do que sobre a gente. É o que na psicanálise chamam de “projeção”, um mecanismo de defesa do ego que ao se deparar numa situação ameaçadora ou em algum pensamento indesejado projeta no outro aquilo desviando assim sua culpa ou responsabilidade perante o contexto.
Não existe receita para se evitar a projeção, ela acontece o tempo todo em todas as relações, mas podemos perceber quando isso acontece.
Relações abusivas utilizam muito desse recurso: um culpa o outro por algo que não está indo bem e este alguém, despreparado para a situação, acaba acatando como verdade e cada vez mais acreditando que é o causador(a) da relação conflitante. Em muitos casos quem recebe estas ações tem grandes chances de desenvolver alguma síndrome ou transtorno psicológico.
Porém, existem outros casos muito menos expressivos que demonstram a projeção, por exemplo, há uma discussão entre amigos, um deles sente raiva, mas ao invés de assumir que está com raiva ele diz que o outro sente raiva dele. O outro pode até começar a se questionar, será que eu tenho raiva dele e não sei?
Aquilo que não é do outro é meu mesmo?
Quando a gente se incomoda demais com determinado jeito de alguém que não nos prejudica em nada, é sempre bom se questionar: o que essa pessoa tem que eu não quero enxergar em mim?
Neste caso já entramos em outro termo da psicologia, porém, da psicologia analítica, do Carl Gustav Jung, que é a sombra. A sombra está escondida em nós, é o que não queremos enxergar na gente.
É por isto que o autodesenvolvimento e o autoconhecimento são tão importantes, pois, quanto mais sabemos como respondemos a determinados estímulos, mais compreendemos nossos limites e podemos reparar mais facilmente em relações nocivas.
Apontar o dedo para o outro, responsabilizar apenas o outro de algo sair errado, dizer coisas a respeito dessa pessoas com o objetivo de agredir pode ser uma forma de utilizar o outro como um espelho e no espelho o que vemos é o nosso próprio reflexo.
Porém, é importante ressaltar que este mecanismo de defesa está presente em todos nós, na infância ainda é mais comum, quando crescemos em algum momento da vida podemos também projetar no outro alguma insatisfação nossa, mas conscientes de como a nossa mente funciona, fica mais fácil reverter ou parar antes de projetar.
Para quem se identifica vale a pena um para se compreender melhor e entender o seu entorno. Quando mais conhecemos a nós mesmos, menos responsabilizamos o outro por algo em nossa vida.