Dizem que o amor é algo que fazemos pelo outro mesmo que aquilo não seja exatamente o que queremos. É ceder, permitir que este outro sobressaia para que se sinta seguro e confiante em seus passos e obstáculos. É potencializar a qualidade alheia fazendo-o ver seus talentos e forças e assim que ele perceber não dizer: ” – eu te falei”, mas convencê-lo de que é mérito exclusivo seu, sem que a gente se vanglorie, ou seja, sermos humildes com o outro.
Para mim também tem a ver com renúncias. E elas são tão extensas que não temos como descrevê-las, mas inclui esquecer um pouco dos próprios objetivos por uma causa maior. Estar presente em locais que não fazem sentido para nós porque o outro precisa estar lá e nos doar. Entregar. Ter tempo. Atenção. Carinho.
Eu, por exemplo, não gosto de assistir missa. Desde pequenininha eu tinha alguma coisa com missa: era entrar em uma e começar a chorar. Minha mãe dizia que eu sofria calada. Chorava baixinho só deixando as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, mas não fazia um barulho ou incomodava ninguém, porém, minha mãe ao me ver naquela situação se solidarizava e me tirava da igreja, fazendo com que desta forma eu parasse de chorar.
Por conta de acompanhar meu pai em alguns finais de semana, isto tornou a nossa rotina de domingo de manhã – ir à missa – e aguardar toda a cerimônia terminar para continuarmos o dia. Embora este momento seja para mim uma tortura (sem preconceito a religião que eu nasci e vivi boa parte da vida, mas apenas uma forma de ilustrar melhor uma questão pessoal) é um momento em que me coloco a questionar.
Questiono sobre tudo isto que comentei ai em cima: amor, renúncias, ceder, escolhas, humildade, entrega, qualidade do tempo e se de fato faço isto tudo.
Também são horas em que eu me coloco em outras situações, pensando se por acaso a situação fosse com outra pessoa eu faria a mesma coisa. Ou então se fosse eu que precisasse, será que haveria esta doação?
Momentos reflexivos e sem resposta, pois a verdade é que só sabemos do momento presente, do futuro só quando chegarmos lá. Então se podemos fazer o melhor hoje ele volta para nós algum dia, mas não é por isto que faremos.
Mas no meio de tudo isto que reflito uma coisa é verdadeira: tenho aprendido a amar meu pai de uma forma mais limpa e transparente. Diferente do que era ou do do modo como amo minha mãe, mas de uma forma mais protetora e cuidadosa.
Brigo como mãe, fico velando seu sono várias vezes ao dia para ver se tá tudo bem e imaginando como seria se ele não estivesse assim ou quando isso tudo mudar de figura.
O fato é que amor mesmo, de verdade é quando a gente esquece o que somos para podermos ser um pouco o outro sem sentir peso algum por isto.