O meu pai tem Alzheimer.
Diagnosticado há 3, 4 anos. Para ele nada muda, para mim, tudo muda. Muda porque ele é meu pai e embora nossa relação nunca tenha sido a mais fofa do mundo ele era o cara saudável que resolvia as questões de casa, também era o ser humano grosso da família que discutia com a minha mãe, comigo, dizia coisas que machucavam, mas que jamais abandonou a nossa casa e seus deveres como pai e marido.
Sabia exatamente o valor de cada tostão que ganhou e fez a gente valorizar da mesma maneira o custo das coisas. Sempre foi muito esquecido (desde quando eu era pequena) e por isto que demoramos um tempo a mais para perceber sua doença.
Ele começou a medicação assim que foi diagnosticado e isto segurou bastante a evolução, porém de uns tempos para cá ele deu uma piorada, nada que seja gritante, mas que necessite de mais cuidados. Ele continua viajando, comendo no shopping, fazendo caminhada e lendo jornal todas as manhãs (acho que isto ajuda).
Estava pensando que todos os dias perco um pedacinho do meu pai, alguma coisa que não volta mais: seja algo muito relevante para mim como ele saber meu aniversário e me dar parabéns ou algo bem bobo. Todo dia é alguma recordação que se vai embora para nunca mais voltar.
Só que da mesma forma que isso acontece (e considerando quem ele é) achei que não haveria desfecho final melhor do que este para ele e para todo mundo…esquecer de coisas que não fazem mais sentido e nem guardar mágoas deve ser libertador.
Quer coisa melhor? Aos poucos abondar quem somos, o que conquistamos, rancores, dores, amores e roupagens. Se despedindo da vida em vida, mas de forma pacífica, sem tristeza por estar partindo. Não ter dores nem sofrimentos e se tiver algum durar pouco tempo.
Acho genial.
Eu não sei por quanto tempo mais ele se lembrará de mim (aliás ele lembra de todos nós) e nem se ficará assim por um longo período ou se amanhã terá perdido o restante de si, mas o que eu desejo é que ele continue do jeito que sempre foi: perdoando rápido, dando muita risada, fingindo estar entendendo o que a gente diz e vaidoso que só.
Tenho certeza que o mundo seria bem mais leve se abandonássemos todos os dias aquilo que aconteceu de ruim, se retirássemos da vida o que não vale à pena e até mesmo fôssemos nos despedindo dela sem pensar, apenas desapegando.
Menina….. gratidão!! Tão poética essa visão que você deu ao Alzheimer, ao esquecimento das coisas…. S2 Tocou profundamente o meu coração.
Beijos.
Flor querida, agradeço pelas palavras!