Quando uma criança ganha um presente que ela quer muito – independente se é um videogame ou uma bolinha de gude – a reação é empolgante e contagiante. Elas expressam sua alegria pelos olhos, pelo sorriso, nos gritos, nos pulos, seu corpo inteiro demonstra a sua felicidade. E às vezes, tudo é dito sem dizer nada.
Conforme vamos crescendo, por alguma razão desconhecida ou talvez até conhecida, mas não tão convincente assim, muitos vão perdendo essa expansividade, a alegria de corpo e alma. As comemorações tornam-se contidas e sutis dependendo do ambiente que estamos.
Outro dia vivendo algo muito, mas muito bom pensei sobre isto. A situação em si me remeteu ao tempo de adolescência porque estava fazendo algo que eu desejei demais, porém havia ali uma ingenuidade, um olhar inocente e ao mesmo tempo doce. Tinha um receio da reprovação, o frio na barriga por estar experimentando aquela sensação e um mundo de possibilidades a minha frente, mas eu só queria ficar naquele instante, sem me mexer para que passasse bem devagar ou nem passasse.
A sensação era igual a da música do Zeca Baleiro: “…por isso hoje eu acordei com uma vontade danada de mandar flores ao delegado, de bater na porta do vizinho e desejar bom dia, de beijar o português da padaria…”
Eu poderia fazer como a música ou como uma criança quando faz algo que gosta, poderia ter batido palmas, comemorado aquilo, saído correndo, pulando, mas não fiz, me contive. Guardei num potinho toda a alegria do momento e deixei ali, trancado.
Estou ansiosa para abri-lo e deixar livre as emoções guardadas para que na próxima vez que algo semelhante acontecer e eu estiver brilhando de alegria não me ofusque pelas regras alheias e que eu possa contaminar todos ao meu redor com a picada do meu contentamento!