A situação: o metrô parado porque alguém estava impedindo o fechamento das portas.
A cena: uma mão estava presa na porta do metrô ao lado de onde eu estava sentada.
A ação: a porta se abriu e junto dela veio um menino de aproximadamente 8 anos de idade com metade do rosto pintado e a outra metade seu rosto limpo. Logo atrás dele um guarda do metrô acompanhando.
Conforme esta criança entrou, o policial começou a revirar tudo: mochila, bolsos, capuz, dentro da bermuda e todos os locais que ele achou digno revistar.
E eu, revirada pela situação senti uma imensa vontade de gritar – pare ele é só uma criança – mas nada fiz.
Fiquei pensando na família daquele menino, seus pais, irmãos, onde mora, porque estava sendo tratado como lixo revirado por aquele guarda. Fiquei pensando no motivo destas coisas acontecerem com alguns E neste momento meus olhos começaram a marejar também. Por mais que aquele menino tivesse roubado alguém (que era tudo o que o guarda demonstrava com sua incessante revista) ele é um ser humano em fase de aprendizado que estava sendo humilhado publicamente.
Lembrei do Omran, que saiu dos escombros de um bombardeio na Síria e que mais parecia um homem de tanta maturidade e pensei que destinos cruéis aos dois: um aqui no Brasil é tratado como marginal e outro é atingido por uma guerra e com sua quietude comovendo o mundo. Duas tragédias diferentes, porém de igual tristeza.
O guardinha não encontrou absolutamente nada nele, mas os dois saíram juntos na outra estação e sabe lá Deus o que aconteceu com aquele metade palhaço, metade menino.
Eu fiquei com as lágrimas no rosto e a sensação de que devia ter feito algo, mas o que poderia fazer?
Depois de sair de lá com o meu estômago revirado cheguei a conclusão que o que todos nós podemos fazer é tratar as pessoas como seres humanos: moradores de rua, presidente da empresa, porteiro do prédio, gerente do banco, limpador de vidro.
Ter um olhar amoroso com o próximo. Seja ele quem for. Aquele policial poderia revistá-lo de uma forma menos humilhante, pois não era só eu quem estava olhando para a cena, (e eu não conseguia deixar de olhar), ele poderia dar um pouco do que mais falta para aquele pequeno: amor.