Eu não sou, eu estou
Há alguns anos eu fiz um curso de Escrita Criativa e Afetuosa promovido pela The School Of Life Brasil. O curso foi ministrado pela Ana Holanda e chamava “Como se encontrar na escrita”.
A escrita sempre foi um caminho para mim, mesmo quando eu ainda não sabia o que faria profissionalmente, mesmo quando eu estava trabalhando em áreas que não me identificava, o caderno, a caneta e os meus pensamentos se faziam presentes e pediam para serem registrados.
Tenho guardado até hoje poesias e reflexões de quando eu tinha uns 15, 16 anos, eram textos adolescentes que conversam comigo em algum lugar dentro de mim até hoje.
Voltando a Ana Holanda, existe uma informação bem relevante aqui, pois ela era na época a editora-chefe da revista Vida Simples. Conheci essa revista na sala de espera da minha primeira terapeuta. Às vezes, eu lia os textos que ela indicava e eu gostava muito. Me encantei e assinei por um tempão.
Antes deste curso eu tinha feito um contato com a Ana por e-mail e ela foi super atenciosa. Ali ela me conquistou.
Por que nossa resposta é limitada?
Foi neste curso de escrita que eu ouvi pela primeira vez a frase “Eu estou” e ela comentou que somos muito mais do que um cargo ou profissão. Somos muito mais e por isso estamos e também mudamos nesse estar. E eu vi muito sentido naquilo.
No mundo corporativo é muito comum ser algo. Temos que ser. Já reparou?
” – O que você faz?”
Qual a resposta esperada? O cargo que temos e ocupamos dentro da empresa ou a nossa profissão, não é?
E se algo fugir desta resposta numa entrevista de emprego vão estranhar e podemos correr um sério risco de não sermos os escolhidos.
Eu não sou, eu estou
No meu caminho profissional posso dizer que passei por diversas áreas e setores, mas não era especialista em algo, eu era aquela que podia ficar na área 1, cobrir férias na área 2, ficar um período ajudando alguém na área 3 e assim seguia.
Muitas vezes eu achava que tinha algo errado nisso. Puxa, eu sempre sou a pessoa que eles querem que faça outra coisa. E o bichinho do – não sou boa o bastante – ficava me rondando.
Por graduação sou publicitária, mas trabalhei anos como operadora de telemarketing que foi meu primeiro emprego, no setor financeiro-operacional, outros tempos no marketing/eventos, Também estive presente como coordenadora de operações e tráfego em agência de publicidade. Produto conteúdo para o meu portal e já trabalhei produzindo conteúdo para outras empresas e de vez em quando retomo a função.
Eu não sou nenhum destes cargos, mas estive neles. Eu sou muito mais do que eles, mas foi por ter passado por essas experiências que hoje estou terapeuta. E amanhã posso voltar a estar em alguns deles e continuar terapeuta e tudo bem.
Quem eu estou hoje dá lugar para estar em vários outros lugares.
E para você tudo bem?
Será que temos que limitar – o que você faz da vida? – ao nosso cargo atual? E porque temos que responder o que fazemos profissionalmente como sendo a resposta correta?
Não precisamos responder que somos isso ou aquilo, pois não temos que nos limitar àquele único espaço.
Muitas empresas apostam na competitividade saudável, embora para mim competição não é saudável, quantos atletas param para cuidar da saúde mental?
E são empresas que apostam nisso que geram um ambiente inseguro e instável. Será que precisa ser assim?
Não ser bom o suficiente parece ser o sintoma coorporativo que mais aparece em meus atendimentos. E não é para ser assim.
Momentos de dúvidas sempre existirão, mas quanto mais a gente se conhece, se entende, se respeita e se permite duvidar e questionar a nossa caminhada, mais perto de oportunidades de “estar” surgirão para nós.
Eu estou terapeuta quando atendo meus clientes, mas estou muito mais funções quando me olho com amor e gostaria que você fizesse o mesmo quando a dúvida bater e alguém te perguntar: