O meu primeiro beijo foi a história que definiu por muito tempo meus relacionamentos.
Era um cara que estudava comigo, amigo de todo mundo, mas que não tinha o meu perfil de beleza estabelecido. Ele era a pessoa mais sociável da sala, estava em todas as rodas de conversa e todo mundo queria ter ele por perto, menos eu.
Até que um dia ele deixou claro que estava interessado em mim e ai que eu surtei mesmo. Comecei a listar todos os defeitos que eu via nele – de cor de cabelo a estilo de roupa – e iniciei um processo total de aversão, o que mais tarde eu fui aprender que se chamava autossabotagem.
Depois de algumas investidas sem resultado, como todo moleque que tem seu ego, ele desencanou. E como toda sabotadora de primeira linha, eu comecei a me aproximar. Achava um absurdo aquele menino “cheio de defeitos” não ter mais interesse em mim. Ai ele se aproximou novamente e dei meu primeiro beijo – uma única vez.
Construí, na minha mente perturbadora, um história de cinema onde o mocinho conquista a mocinha e vivem felizes para sempre. Troquei aversão por adoração e comecei a ver nele o melhor ser humano do mundo. Conclusão: ele começou a namorar uma menina logo após, foram felizes por muito tempo e eu me autoflagelando por outro tanto…
Nem preciso contar o restante, mas o resultado foi que este padrão de comportamento se repetiu inúmeras vezes, mesmo! Demorou muito para eu entender que o meu bullying da infância arruinava toda e qualquer possibilidade de amor real. Qualquer um que se interessava por mim, pela pessoa que eu era, eu compreendia que não devia ser alguém bacana para se interessar.
Tinha na minha mente criativa que já bastava eu ser a “patinha feia” da relação e que se fosse para alguém rir que centralizassem apenas em mim e não de quem estaria ao meu lado, eu avaliava o outro no padrão de beleza “made in TV” como se fosse a qualidade necessária para ser feliz.
Meu ego não permitia erros, vulnerabilidades, escorregadas, coisas imprevistas, mas adorava uma crítica.
Depois de fazer muita terapia, me aproximar de filosofias que enaltecem o ser e não o ter entendi que esta etapa da vida havia sido encerrada.
Mas não é que meu ego deu um jeito de atacar novamente? E era esperado até mesmo porque ele sempre vai nos enfrentar pois é a função dele: estar ligado 24 horas do dia nos questionando ou apontando o dedo na nossa cara, mas cabe a nós todos colocá-lo em seu devido lugar.
A questão vai e volta e sempre cai no mesmo ponto – os padrões de comportamento vão se repetindo ate o nosso basta, até a gente ditar as regras da nossa vida. A resposta, o sofrimento, a solução, tudo está em nós.
Não é a falta de tempo para ter uma relação, é a falta de coragem para ser feliz. Não é a imagem do outro, é o seu reflexo. Não é falta de amor do mundo, é aquilo que aceitamos como sendo amor, mas que não é.