Todos os dias ele faz o percurso da casa para o trabalho pelo mesmo caminho. Não muda ruas, vias, caminhos. O seguro é sempre o melhor. Entre correr o risco de errar e não falhar, não pensa meia vez – não falha. E quando isto acontece, por um descuido qualquer, rapidamente corrige e enrubesce automaticamente como se alguém tivesse descoberto seu erro e o punisse. Para ele é quase como um crime.
Ela, por sua vez, deixa tudo impecável sempre: a casa, as roupas, os acessórios, nada fora do lugar ou desarrumado. É tudo perfeito. Seus cabelos estão bem penteados, a maquiagem segue uma linha simétrica. Pode variar tons de roupas ou de batom, mas nada que fuja do habitual, daquilo que seja sóbrio e pontual.
Quando juntos são funcionais: os dois se completam em suas perfeições e manias. Nada fora do lugar, nada para ser consertado, arrumado ou limpo. A casa, o carro, as roupas, os móveis, os discos, os livros, nenhum arranhão, nenhuma sujeira, nenhum risco não calculado.
Todos os dias ao acordar não se questionam ou pensam sobre a relação que possuem, por impulso dão bom dia um ao outro, conversam, tomam seus cafés e comentam sobre seus deveres, que sempre são muitos. Quanto mais, melhor!
Quem os vê, de fora, garantem que nasceram um para o outro. Tudo bem que os sorrisos já diminuíram, mas isto faz parte do dia a dia…
Na hora do jantar os talheres e pratos conversam mais entre si do que os dois, mas faz parte, pois o cansaço de duas pessoas muito ocupadas acabam causando o silêncio.
Os dois se deitam: um mais cedo que o outro – seus travesseiros ouvem pensamentos dos mais diversos, barulhos, sussurros, tudo aquilo que não sai de dentro fica ali na cabeça. E embora a mente esteja inquieta, se convencem que está tudo bem, que aquilo que vivem é normal e que toda relação algum dia cai na rotina.
Porém esquecem que qualquer rotina pode ser mudada se a rota for recalculada!