Meu pai sempre foi aquele perfil típico: bravo, nada delicado, o provedor, aquele que resolve as questões práticas e financeiras da família. Acredito que este seja o perfil dele e de muitos outros homens que sejam de sua geração. Embora presente, era ausente no sentido do acolher ou de ouvir, de ser conselheiro ou aquele pai amigão que muitas amigas comentavam ter.
Para quem ainda não sabe, hoje em dia meu pai tem Alzheimer, escrevi outro dia sobre esta experiência para mim chamado e relatei como é conviver com uma pessoa que amamos com esta doença.
O que eu percebi recentemente é que pelo fato dele ter Alzheimer, muitas vezes trato ele como criança, sendo que sua memória aos poucos está indo embora, mas ele é ainda é um adulto, ainda tem discernimento. E está cada vez mais sábio. E fazê-lo sentir-se valorizado e reconhecido também pode ser extremamente produtivo. Por isto, resolvi pedir conselho a ele. Daqueles que só falamos para quem amamos muito. E confiamos.
Pela primeira vez na vida resolvi abrir meu coração e dizer a ele o que estava acontecendo comigo e o resultado foi surpreendente! Ele foi doce, coerente, lógico, racional e amoroso. Eu fiz questão de gravar uma parte da conversa no meu celular. E deixarei lá para sempre, para quando ele não se recordar de quem eu sou ou do que já fizemos juntos eu me lembrar do quanto que ele teve amor por mim.
E que isto sirva de exemplo para mim por onde eu for, nem sempre uma condição física ou mental de alguém limitará seus sentimentos. Eu sei que no caso da doença dele, é o futuro, mas não é o que está acontecendo neste momento e é isto que vale – o agora.
Se eu for viver o tempo todo da minha vida pensando no que irá acontecer amanhã esquecerei de olhar para o meu hoje de forma positiva e intuitiva e sofrerei as consequências de viver o que ainda não aconteceu.
É fácil? Não, porque nossa mente vive no depois, naquilo que ainda está para acontecer, mas o que vale é mantermos o mais centrados possível no agora porque este sim nós sabemos o que está acontecendo.