Tive duas experiências em minha vida, até hoje, onde eu amei incondicionalmente. O amor mais puro, verdadeiro, visceral e genuíno que alguém pode ter. Este sentimento é aquele que prefere ver o outro distante mesmo que isto dê saudade e que a gente reza para não ter que passar nunca por isso, até que passa.
Estes dois amores me deram muito mais que cuidado, colo ou afeto, me deram existência. Eu existia para eles. E só somos reconhecidos quando existimos. Eu era essencial sem precisar questioná-los sobre, pois amor, não se questiona, sente-se.
Um deles foi com a minha mãe, que já mencionei aqui muitas vezes o que representa em minha vida (e na vida de muita gente que a conheceu). A outra foi a minha cadela, Nina Caiani, como eu a chamava. Pode surgir uma estranheza para alguns quando eu me refiro de amor “a um animal”, mas todos que habitam este mundo são seres que podem nos trazer algo de bom. E ela foi especial e inesquecível para mim.
O que eu aprendi nestas duas experiências é que não há cobrança quando é incondicional, doamos porque sentimos uma enorme vontade em contribuir. Queremos que o outro tenha a melhor estadia neste mundo e se pudermos fazer com que isto aconteça, faremos. Há entrega.
Também aprendi que se por acaso a permanência destes seres por aqui é sofrido, não faz sentido permanecerem aqui.
Estas duas vivências trouxeram a mim uma visão bem diferente sobre morte. Antes eu sofria pensando que elas um dia partiriam, hoje eu agradeço por ter vivido com elas. E sei que ficaram o tempo exato e necessário para as suas evoluções.
Uma das coisas mais marcantes para mim na perda da Nina foi, no processo inteiro, (desde quando ela começou a ficar doente até de fato internar) ver pessoas com seus animais completamente desesperadas e que fisicamente seguravam seus “pets” angustiantemente. E quando vi estas cenas disse a mim mesma: – não farei o mesmo com ela, quando ela quiser o caminho está livre para a sua partida.
Hoje quando eu penso na morte, no fim, na perda de alguém que amo o que passa pela minha cabeça não é igual ao que passava antes de perder minha mãe e no período que estava perdendo a Nina, pois compreendo que tudo é impermanente nesta vida. Vejo a morte como uma parte que termina e outra que começa. O falso controle que temos da vida, faz com que fiquemos mais preocupados com a posse do que com a existência e coexistência em si.
E com isto surgem os medos, nossos maiores inimigos.
Agora, deixo solto e leve qualquer pessoa que esteja por perto e que eu tenho um imenso carinho, pois está completamente claro para mim que não quem defino sua permanência ao meu lado e no mundo. O Universo sabe tudo de bom para mim e o que não for para acontecer, tenho certeza que não acontecerá.
O oposto também é verdadeiro e por isto, espero para que todas as coisas boas que mereço encontrem seu percurso natural para chegarem até mim.