Aceite aquilo que te pertence
Quando eu era pequena, sofria bullyng e na época esta palavra não existia, não havia conscientização nas escolas para não se disseminar, mas o meu bullying não era agressão verbal apenas dos alunos.
Eu era uma criança alta para a média das crianças e que ora estava magra ora estava gorda.
Eu era fraca em atividade física e tive uma professora de educação física que fortaleceu para que isto fosse ainda mais evidenciado.
Lembro como se fosse hoje de uma vez que eu tive prova prática de handball e ouvi esta professora dizer ” – affff lá vem a desengonçada”.
A cada exercício que eu fazia, cada falha, ela me apontava, ria e fortalecia às outras crianças que eu era um fracasso.
Eu, tímida e reservada como era naquela época, tomava para mim como verdade e me sentia a errada. A alta, fora do padrão, desengonçada, pela observação encorajadora da professora e calada que acabou acreditando em tudo aquilo por muito tempo.
O que fazer quando nos sentimos errados?
Eu me considerava um erro, uma falha, um fracasso e foi preciso muito trabalho de autoconhecimento para me dar conta de que na verdade eu não tinha nada de errado – eu só era eu.
Ela não disse para mim que eu era um fracasso, mas diante da atitude dela e dos outros alunos me apontarem e rirem de mim eu me sentia assim.
Eu era nova e a opinião ou aprovação dos outros agia de forma impactante na minha vida. É nesta época que criamos nossos elos de amizade, fazemos novos vínculos além da família e queremos pertencer.
Até hoje me pego pensando como aquela menininha tímida e indefesa conseguiu superar aquilo tudo e em dias de nuvens cinzas dentro de mim me sinto como ela aceitando dedos apontados que dizem o quanto eu não sou boa.
Ainda encontro professoras por ai, que enfatizam meus erros, e falhas, mas aprendi que a única pessoa capaz de me invalidar sou eu mesma.
Ninguém tem o direito de dizer sobre a nossa incapacidade, nem o direito de nos invalidar, agredir, verbal ou fisicamente, a menos que a gente permita.
Como aceitar aquilo que me pertence?
Uma pergunta que pode surgir é como aceitar aquilo que me pertence se eu nem sei o que é meu e o que não é? Se eu muitas vezes fico perdida sobre quem eu sou por tanta crítica que recebo?
Eu não posso te dar uma resposta única, pois, cada caso vem junto de uma história de dor que eu respeito muito, mas o que posso dizer sobre os atendimentos na minha clínica é que quando fortalecemos nossa essência ficamos mais flexíveis e compreendemos melhor que o que é do outro, cabe a ele.
E o que é nosso cabe somente a nós.