Eu sei que é comum mulheres e sapatos terem uma relação intensa de amor. Eu não sou exatamente desta vertente. Sapato para mim tem que ser confortável, não doer e nada caro. Meu pé não é o melhor pé do mundo para calçados, então o lance “conforto” entra no critério um.
Existe uma loja que tem tudo isto que eu preciso junto. Todo ano eu passo nela e vejo as promoções. Desta vez, estava uma oferta muito boa e quando eu havia feito minha escolha o gerente disse que eu podia aproveitar porque a loja iria ficar aberta só até o outro domingo.
Sabe quando a gente é criança e tem um parquinho bem do lado de casa e um dia vamos brincar lá e quebraram tudo porque vai ser construído um prédio?
Esta foi exatamente a minha sensação! Me senti desamparada com a única loja que tem os calçados mais confortáveis do mundo! E por conta disto acabei levando dois modelos diferentes.
Foi ai que eu percebi como trabalhamos com a escassez. Se a loja não fosse fechar provavelmente eu me limitaria ao que eu já tinha escolhido, mas quando veio a informação do “vai fechar” quis imediatamente garantir algo.
Quantas vezes não fazemos isto com as nossas relações?
O medo de ficar sem, de perder, faz com que a gente tome medidas errôneas. Às vezes, a relação não está lá tão boa, mas quando o outro levanta a hipótese, mesmo que remota, de dar um tempo, sumir, se afastar ai que queremos. Ai que a pessoa é a melhor escolha que fizemos na vida, era tudo o que sonhamos, sendo que na semana anterior ela era uma opção na berlinda.
Não ter mais, perder, nunca mais ter algo gera esta potência do “eu quero ter”. Como se algo fosse nosso, de nossa posse…E nada é. O marketing utiliza e se beneficia muito com a escassez. E nós caímos…
Porém, com a nossa vida não dá para fazermos escolhas apenas por que “vai acabar”. Um dia tudo realmente irá transmutar e se vivermos na escassez de sentimentos teremos o triste fim de carregar arrependimentos imperdoáveis.