Eu prometi que não escorreria mais uma gota de lágrima por isto. Mais nenhum milímetro de água saindo dos meus olhos, porque isto comprovaria minha imensa falta de jogo de cintura para lidar com determinadas situações.
Só que ai aconteceu! Quando eu senti a garganta apertada, o coração estremecido e o olho embaçado percebi que não teria como fugir. Tentei me segurar e a garganta pareceu ainda mais estreita para descer minha saliva, foi quando eu soltei ela.
Foi uma lágrima só. A última. Por um motivo só. O último. Pelos mesmos erros meus. Não aprendidos. Mal formulados. Inapropriados.
Foi uma lágrima que permiti que saísse pela última vez e que serviu de lição para todas as outras que estavam ensaiando sair de mim. Ela e eu entramos em compaixão e entendemos que quando chorei estava limpando minha alma e purificando meus sentimentos e que não tinha nada a ver com não ter jogo de cintura. Era uma dorzinha, mas dei um banho para que todo o meu corpo entendesse que o que estava saindo de mim era mágoa e é para isto que o pranto existe…para ser diluído.
Uma gota sai e a paz entra.
Existe uma teoria que diz que chorar é sinal de fraqueza. Que somente pessoas fracas transformam em pingos salgados momentos difíceis. Eu discordo. E caso alguém discorde de mim me conte sua versão, quem sabe assim eu entenda todo rosto seco que eu conheço.
Mas, à medida que eu senti aquela gota percorrendo meu rosto e caindo sutilmente entre meu peito pensei: agora acabou. Agora tudo o que estava dentro de mim encontrou um jeito de sair e morar em outro lugar bem longe.
Senti uma espécie de dor, talvez por ter me acostumado a ficar com as lágrimas alojadas em mim por um tempo, mas depois compreendi que tudo que fazia mal encontrou uma forma de sair…e se dissolver.
Chorar não diminui o ser humano. O que diminui é o descaso, o desleixo, o descuidado. Chorar dissolve a dor. Extrai a angústia. E retira o amargo. Mas cuidado, todo excesso precisa de cautela.
“Tive vontade de sentar na calçada da rua augusta e chorar, mas preferi entrar numa livraria, comprar um caderno lindo e anotar sonhos.” Caio Fernando Abreu
Que possamos anotar sonhos ao invés de buscar mais lágrimas em vão…